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Consumo digital e saúde mental: impactos nos comportamentos e relações

Consumo digital e saúde mental:  impactos nos comportamentos e relações

O s hábitos de consumo no mundo digital estão tornando-se responsáveis por uma mudança drástica de comportamento dos últimos anos, especialmente pós-pandemia. Uma pesquisa do Instituto Gartner estima que a quantidade de informações a que temos acesso hoje supere os 40 trilhões de gigabytes de dados no mundo. Isso significa 2,2 milhões de terabytes de novos dados gerados diariamente. Para se ter uma noção, esse volume equivale a 4 quintilhões de páginas A4 de conteúdo criados e disponibilizados todos os dias.

Segundo levantamento da NordVPN, os brasileiros passam mais da metade de suas vidas na internet, ou cerca de 41 anos. Isso corresponde aproximadamente 91 horas online por semana conectados à internet. Essa avalanche de informações associada a rotina moderna, tem contribuído para um crescimento de transtornos mentais, dentre eles ansiedade e depressão.

Segundo o mesmo estudo, as redes sociais e as plataformas de entretenimento (como streamings de filmes e séries) ocupam a maior parte do tempo no digital. Esse “volume” de informações de múltiplas conexões e de tempo gasto nos dispositivos e ambientes digitais, vem moldando relações com menos diálogo, baixa tolerância ao estresse e isolamento social em crianças e adolescentes, dentre outros comportamentos associados ao consumo excessivo de informações.

Na última semana, um estudo realizado por pesquisadores da University College London, na Inglaterra, revelou ainda uma ligação preocupante entre a saúde mental e o consumo de conteúdo negativo na internet. Segundo as pesquisas, pessoas com pior saúde mental tendem a acessar mais conteúdo online de tom negativo, o que, por sua vez, piora ainda mais seu estado emocional, criando um ciclo difícil de romper.

O estudo, publicado na revista Nature Human Behaviour, envolveu mais de 1.000 participantes que responderam perguntas sobre sua saúde mental e compartilharam seu histórico de navegação.

Usando técnicas de processamento de linguagem natural, os pesquisadores analisaram o tom emocional dos sites visitados. Aqueles que navegaram em conteúdos negativos relataram piora no humor, evidenciando uma relação causal entre o tipo de conteúdo consumido e o impacto emocional.

Os pesquisadores também desenvolveram uma ferramenta inovadora: um plug-in para navegadores que adiciona “rótulos de conteúdo” aos resultados de pesquisa do Google, semelhante aos rótulos nutricionais em alimentos. Esses rótulos indicam se um site provavelmente melhora, piora ou não afeta o humor do usuário. Participantes que usaram a ferramenta e escolheram sites positivos relataram melhora em seu humor.

Esse novo modelo de navegação consciente propõe uma mudança de paradigma. Assim como escolhemos alimentos saudáveis para preservar o corpo, podemos também optar por consumir conteúdos digitais que favoreçam a saúde mental. Essa abordagem nos desafia a refletir sobre como as informações que escolhemos acessar podem influenciar nosso bem-estar, e nos convida a fazer escolhas mais saudáveis para a nossa mente.

Portanto, a mudança não depende apenas da tecnologia, mas de uma transformação cultural, em que as pessoas se tornem mais conscientes dos impactos que suas escolhas digitais podem ter em sua saúde mental.

Por: Rosilene Fochesatto/OJ

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